Fernando Pessoa

Secção decicada aos Poemas de Fernando Pessoa pode também ver frases de fernando pessoa no mil frases. Além dos Poemas Que escreveu em seu nome Fernando Pessoa também escreveu muitos poemas que assinou como Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Bernardo Soares...

Uma imagem com a seguinte frase POEMAS CURTOS

Meu ser vive na Noite e no Desejo.
Minha alma é uma lembrança que há em mim;

12/12/1919



Longe de mim em mim existo
À parte de quem sou,
A sombra e o movimento em que consisto.

1920



Não haver deus é um deus também

1926



Saudade eterna, que pouco duras!

26/04/1926



... Vaga história comezinha
Que, pela voz das vozes, era a minha...
Quem sou eu? Eles sabem e passaram.

1928



E a extensa e vária natureza é triste
Quando no vau da luz as nuvens passam.

1928



O meu coração quebrou-se
Como um bocado de vidro
Quis viver e enganou-se...

01/10/1928



O abismo é o muro que tenho
Ser eu não tem um tamanho.

1929



Mas eu, alheio sempre, sempre entrando
O mais íntimo ser da minha vida,
Vou dentro em mim a sombra procurando.

1929



Tenho pena até... nem sei...
Do próprio mal que passei
Pois passei quando passou.

1929



Teu corpo real que dorme
É um frio no meu ser.

1930



Deus não tem unidade,
Como a terei eu?

24/08/193



Quando nas pausas solenes
Da natureza
Os galos cantam solenes.

1930



Tão linda e finda a memoro!
Tão pequena a enterrarão!
Quem me entalou este choro
Nas goelas do coração?

25/12/1931


Entre o sossego e o arvoredo,
Entre a clareira e a solidão,
Meu devaneio passa a medo
Levando-me a alma pela mão.
É tarde já, e ainda é cedo.

(...)

1932



CEIFEIRA

Mas não, é abstracta, é uma ave
De som volteando no ar do ar,
E a alma canta sem entrave
Pois que o canto é que faz cantar.

1932



Eu tenho ideias e razões,
Conheço a cor dos argumentos
E nunca chego aos corações.

1932



Aquele peso em mim – meu coração.

1932



O sol doirava-te a cabeça loura.
És morta. Eu vivo. Ainda há mundo e aurora.

1932



Tenho principalmente não ter nada,
Dormir seria sono se o tivesse.

26/04/1932



Minhas mesmas emoções
São coisas que me acontecem.

31/08/1932



Quase anónima sorris
E o sol doura o teu cabelo.
Porque é que, pra ser feliz,
É preciso não sabê-lo?

25/09/1932


Quero, terei –
Se não aqui,
Noutro lugar que inda não sei.
Nada perdi.
Tudo serei.

09/01/1933



Teu inútil dever
Quanta obra faça cobrirá a terra
Como ao que a fez, nem haverá de ti
Mais que a breve memória.

1934



O som continuo da chuva
A se ouvir lá fora bem
Deixa-nos a alma viúva
Daquilo que já não tem.

(...)

1934



Exígua lâmpada tranquila,
Quem te alumia e me dá luz,
Entre quem és e eu sou oscila.

30/11/1934


O meu sentimento é cinza
Da minha imaginação,
E eu deixo cair a cinza
No cinzeiro da Razão.

12/06/1935



Já estou tranquilo. Já não espero nada.
Já sobre meu vazio coração
Desceu a inconsciência abençoada
De nem querer uma ilusão.

20/07/1935



Criança, era outro...
Naquele em que me tornei
Cresci e esqueci.
Tenho de meu, agora, um silêncio, uma lei.
Ganhei ou perdi?



Onde, em jardins exaustos
Nada já tenha fim,
Forma teus fúteis faustos
De tédio e de cetim.
Meus sonhos são exaustos,
Dorme comigo e em mim.



Não combati: ninguém mo mereceu.
A natureza e depois a arte, amei.
As mãos à chama que me a vida deu
Aqueci. Ela cessa. Cessarei.

Fernando Pessoa

POEMAS CURTOS Meu ser vive na Noite e no Desejo. Minha alma é uma lembrança que há em mim; 12/12/1919 Longe de mim em mim existo À parte de quem sou, A sombra e o movimento em que consisto. 1920 Não haver deus é um deus também 1926 Saudade eterna, que pouco duras! 26/04/1926 ... Vaga história comezinha Que, pela voz das vozes, era a minha... Quem sou eu? Eles sabem e passaram. 1928 E a extensa e vária natureza é triste Quando no vau da luz as nuvens passam. 1928 O meu coração quebrou-se Como um bocado de vidro Quis viver e enganou-se... 01/10/1928 O abismo é o muro que tenho Ser eu não tem um tamanho. 1929 Mas eu, alheio sempre, sempre entrando O mais íntimo ser da minha vida, Vou dentro em mim a sombra procurando. 1929 Tenho pena até... nem sei... Do próprio mal que passei Pois passei quando passou. 1929 Teu corpo real que dorme É um frio no meu ser. 1930 Deus não tem unidade, Como a terei eu? 24/08/193 Quando nas pausas solenes Da natureza Os galos cantam solenes. 1930 Tão linda e finda a memoro! Tão pequena a enterrarão! Quem me entalou este choro Nas goelas do coração? 25/12/1931 Entre o sossego e o arvoredo, Entre a clareira e a solidão, Meu devaneio passa a medo Levando-me a alma pela mão. É tarde já, e ainda é cedo. (...) 1932 CEIFEIRA Mas não, é abstracta, é uma ave De som volteando no ar do ar, E a alma canta sem entrave Pois que o canto é que faz cantar. 1932 Eu tenho ideias e razões, Conheço a cor dos argumentos E nunca chego aos corações. 1932 Aquele peso em mim – meu coração. 1932 O sol doirava-te a cabeça loura. És morta. Eu vivo. Ainda há mundo e aurora. 1932 Tenho principalmente não ter nada, Dormir seria sono se o tivesse. 26/04/1932 Minhas mesmas emoções São coisas que me acontecem. 31/08/1932 Quase anónima sorris E o sol doura o teu cabelo. Porque é que, pra ser feliz, É preciso não sabê-lo? 25/09/1932 Quero, terei – Se não aqui, Noutro lugar que inda não sei. Nada perdi. Tudo serei. 09/01/1933 Teu inútil dever Quanta obra faça cobrirá a terra Como ao que a fez, nem haverá de ti Mais que a breve memória. 1934 O som continuo da chuva A se ouvir lá fora bem Deixa-nos a alma viúva Daquilo que já não tem. (...) 1934 Exígua lâmpada tranquila, Quem te alumia e me dá luz, Entre quem és e eu sou oscila. 30/11/1934 O meu sentimento é cinza Da minha imaginação, E eu deixo cair a cinza No cinzeiro da Razão. 12/06/1935 Já estou tranquilo. Já não espero nada. Já sobre meu vazio coração Desceu a inconsciência abençoada De nem querer uma ilusão. 20/07/1935 Criança, era outro... Naquele em que me tornei Cresci e esqueci. Tenho de meu, agora, um silêncio, uma lei. Ganhei ou perdi? Onde, em jardins exaustos Nada já tenha fim, Forma teus fúteis faustos De tédio e de cetim. Meus sonhos são exaustos, Dorme comigo e em mim. Não combati: ninguém mo mereceu. A natureza e depois a arte, amei. As mãos à chama que me a vida deu Aqueci. Ela cessa. Cessarei.

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